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A CONVERGÊNCIA DOGMÁTICA DOS FUNDAMENTALISMOS / O fundamentalismo judaico

Altierez dos Santos

Escritor e pesquisador de

Novos Movimentos Religiosos

na Universidade

Metodista de São Paulo

 

8 de Agosto de 2015

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O FUNDAMENTALISMO JUDAICO

 

 

 

Na origem do fundamentalismo judaico-sionista1 está a questão colonial, visto que o Estado sionista foi construído a partir da invasão da Palestina. Este totalitarismo opera preferencialmente em três níveis, com o primeiro articulando os dois outros: político, ideológico e militar. A partir do lobby judaico nos EUA, no patrulhamento midiático e a partir do Estado de Israel.

 

Como um dos últimos casos de invasão colonial do mundo, o conflito israelense é motivado muito mais pela necessidade de manutenção da invasão e do aparelho estatal que por algum motivo religioso. Evidentemente muitas questões são evocadas para dar legitimidade ao problema que Israel representa: a terra prometida do Antigo Testamento, os exílios impostos, a perseguição aos judeus e o holocausto são sempre lembrados.

 

Porém, o contraponto, que é a aniquilação da população autóctone nunca é mencionada. Já na sua origem, o movimento que abriu caminho para a expansão sionista na primeira metade do século XX, o Irgum Zvai Leumi, comandado por Menachem Begin, adotou táticas de terrorismo contra os mandatários britânicos (que haviam colocado os judeus na Palestina) e contra os árabes donos das terras. Assim que os ingleses entregaram uma terra que não era sua para os colonizadores sionistas, retiraram-se e desde então o conflito se acirrou.

 

O criador do sionismo político é considerado Theodor Herzl. Outros ideólogos ou ativistas do sionismo são Vladmir Jabotinsky, Max Nordan, Chaim Weizmann, N. Kirschner, Moses Hess, Rudolph Kastner e outros. De acordo com Ralph Schoenman (2008), sobre alguns destes ideólogos, como Jabotinsky, é interessante saber que, de suas reflexões sobre a dominação e limpeza étnica na Palestina os nazistas retiraram importantes pontos-chave para a criação do Programa do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães:

 

É impossível que alguém seja assimilado por outro povo que tenha sangue diferente do seu. Para que seja assimilado, este alguém tem de trocar seu corpo, tem de converter-se em um deles, no sangue. Não pode existir assimilação. Nunca poderemos permitir coisas como o casamento misto porque a preservação da integridade nacional só é possível mediante a pureza racial e, para tal, temos de ter esse território onde nosso povo constituirá os habitantes racialmente puros. (JABOTINSKY apud SCHOENMAN, 2008: 63).

 

No entanto, mesmo manifestando colaboração com o nazismo, o sionismo israelita foi poupado de retaliações por ser um posto avançado no instável Oriente Médio (op.cit.). Mais que isto: foi premiado com grande colaboração por parte de países ocidentais. Muitos pesquisadores já se detiveram sobre a questão do apoio incondicional e irrestrito dado a Israel pelos EUA, que é de manter a fiscalização e dominação no Oriente Médio, papel que Israel cumpre perfeitamente. Os interesses estadunidenses foram fundamentais para o reconhecimento, emergência e financiamento de um Estado judeu redivivo na terra do povo palestino. Como Mearsheimer e Walt (2006) sintetizaram, os principais pontos dessa relação é viabilizada, nos EUA, por organizações judaicas fortemente ancoradas em setores estratégicos da sociedade corporativa (como indústria, bancos, mídia). Essas corporações se articulam no lobby pró-Israel, financiando campanhas de congressistas estadunidenses, manipulando os meios de comunicação social, impondo orientações ao governo e manipulando a opinião pública com elementos ideológicos produzidos para distorcer a verdade sobre a real natureza da questão árabe-israelense, coleção de conflitos motivada basicamente pelo imperialismo israelense sobre os palestinos, agressão que é assumida pelo mundo muçulmano.

 

EUA, Israel e aliados acionaram a indústria cultural para promover uma visão inexata da questão palestina e, por outro lado, uma visão romantizada do holocausto judaico. Há um incontável número de filmes, desenhos animados, documentários e outras produções que trabalham no imaginário cultural explicitando ambas as posturas. Os árabes, habitantes naturais da Palestina, são frequentemente retratados como terroristas enquanto soldados judeus ou estadunidenses são os heróis da liberdade. Há também o enfoque na vitimização, perseguição e intolerância contra pessoas de cultura ou religião judaica. Diversos intelectuais, inclusive israelenses, consideram tal visão promovida pela indústria cultural como excessiva ou até fantasiosa, manifestando que o que está por detrás da demonização árabe e angelização judaica é uma questão política com raízes no fundamentalismo (cf. MEARSHEIMER & WALT, 2006; FINKELSTEIN, 2001; SORJ, 2007).

 

A outra face da realidade, nem sempre mostrada pelas câmeras, é bastante desconcertante, pois envolve campos de concentração, guetos, expropriações criminosas e diversos crimes de guerra com requintes de crueldade e sofisticação, elementos que foram imputados a outros totalitarismos da História. Neste sentido, o fundamentalismo judaico-sionista se define como modelo de convergência dos dogmatismos político, militar, cultural, econômico e científico, que se agrupam em torno da questão religiosa.

 

CONTINUA: O fundamentalismo islâmico

 

 

NOTA

 

1 Entendemos os conceitos judaísmo e sionismo como distintos. Por judaísmo entenderemos o que se refere à cultura hebraica religiosa ou não. Por sionismo entenderemos o movimento político-ideológico que decretou a expulsão do povo palestino de sua terra para dá-la a colonizadores de outros continentes bem ao estilo clássico das guerras de invasão, destruição e conquista.

 

 

 

LEIA MAIS:

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